O Papa Francisco mexeu com a ala conservadora da Igreja
Católica após elaborar um documento, chamado “Amoris Laetitia”, no qual faz
declarações bombásticas na visão dos “rebeldes”, como são considerados aqueles
que questionam decisões papais. E está dividindo as opiniões dentro da IC.
As declarações do papa que mais chamaram a atenção do
conservadores, são: “O caminho da Igreja é o de não condenar eternamente
ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com
coração sincero (...). Porque a caridade verdadeira é sempre imerecida,
incondicional e gratuita. Por isso, temos de evitar juízos que não tenham em
conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atentos ao
modo em que as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição”, escreveu o
papa no Capítulo VIII.
E o papa vai mais além ao lembrar o sínodo (trata-se de uma
série de encontros de representantes das diversas classes de fiéis para
tratarem de assuntos propostos por quem convocou o Sínodo e proporem
encaminhamentos para as questões discutidas), ao afirmar que o documento “trata
de integrar a todos; deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira
de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto duma
misericórdia imerecida, incondicional e gratuita. Ninguém pode ser condenado
para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho! Não me refiro só aos
divorciados que vivem numa nova união, mas a todos seja qual for a situação em
que se encontrem. Obviamente, se alguém ostenta um pecado objetivo como se
fizesse parte do ideal cristão ou quer impor algo diferente do que a Igreja
ensina, não pode pretender dar catequese ou pregar e, neste sentido, há algo
que o separa da comunidade”.
Para os teólogos mais conservadores, os ensinamentos modernos
do papa sobre as famílias e divorciados católicos são, em parte,
"sacrilégio" e "podem justificadamente ser considerados
hereges", como sinalizou Steve Skojec, cofundador e diretor da publicação
católica One Peter Five.
Eles veem o tratado como um movimento do pontífice para
afrouxar as normas morais que regem os fundamentos da Igreja.
VERDADE
Essas declarações de Francisco não foram bem recebidas pela
maioria dos católicos, que tanto o admiravam. Por isso, como se sabe, sua
escolha para substituir Bento 16 (no dia 13 de março de 2013) foi considerada
uma “zebra” já que seu nome não figurava na lista de prováveis substitutos.
Ainda mais por ser latino-americano.
O Papa Francisco caiu na graça dos católicos do mundo inteiro
(e até de pessoas de fora da IC), pelo seu jeito democrático, “brincalhão” e
pela opção de andar, às vezes, sem seguranças, e optar por tomar café e bater
papo com outras pessoas nas ruas.
Só que a realidade da IC era outra. Por isso, Francisco
assumiu com a função de manter a unidade de uma igreja que, nas palavras de seu
próprio antecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, estava dividida e imersa em
crises. E pelo visto, crises é o que não falta na Igreja Católica.
Este ano, o papa argentino, querendo fazer média com a ala
liberal da igreja, escreveu a “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris
Laetitia”, direcionada aos bispos, presbíteros, diáconos, às pessoas
consagradas, esposos cristãos e a todos os fiéis leigos, tratando do amor na
família. Esse documento, no entanto, é considerado pela ala conservadora como
sendo uma tentativa de abrir novas portas para católicos divorciados e tornar a
igreja mais tolerante com questões relacionadas à família.
DESAFIO AO PAPA
Ao analisar o documento escrito pelo papa Francisco, quatro
cardeais conservadores partiram para o inesperado e inaceitável pelo Vatiano: Fizeram
um raro desafio público ao pontífice ao acusá-lo de semear confusão a respeito
de temas morais importantes. Eles (Os cardeais) escreveram uma carta ao papa em
setembro com os questionamentos, mas afirmam que foram a público porque a carta
não foi respondida.
Está em questão alguns dos ensinamentos da encíclica de 260
páginas “Amoris Laetitia” (A Alegria do Amor), documento que é um pilar da
tentativa de Francisco de tornar a igreja de 1,2 bilhão de católicos mais
inclusiva e menos condenatória. No documento (veja no site do Vaticano), emitido em abril, ele pede que a igreja
seja menos rígida e mais compassiva com quaisquer membros “imperfeitos”, como
aqueles que se divorciaram e voltaram a se casar, dizendo que “ninguém pode ser
condenado para sempre”.
De acordo com matéria da Agência Reuters, publicada no site
da Revista Veja, a maioria dos críticos a Francisco se concentrou no que a
carta papal disse sobre a reintegração plena à igreja de membros que se
divorciam e voltam a se casar em cerimônias civis. “Nós, abaixo assinados, e
também muitos bispos e sacerdotes, temos recebido inúmeros pedidos de fiéis
sobre a interpretação correta a dar o Capítulo VIII da Exortação”, escreveram
os cardeais Joachim Meisner, Walter Brandmüller (ambos alemães), Raymond Burke
(americano), Carlo Caffarra (italiano) e na sua carta de 19 de setembro.
Pela lei da igreja, eles não podem receber a comunhão a menos
que se abstenham de sexo com os novos parceiros, pois seu primeiro casamento
ainda é válido aos olhos da igreja – dessa forma, considera-se que eles estão
vivendo em um estado pecaminoso de adultério.
Na encíclica, o papa pareceu se aliar aos progressistas que
propuseram um “fórum interno” no qual um padre ou bispo decide em cada caso,
conjuntamente com o indivíduo, se ele ou ela pode ser reintegrado plenamente e
receber a comunhão.
O pontífice já se desentendeu com conservadores que temem que
ele esteja enfraquecendo os ditames católicos referentes a temas morais, como a
homossexualidade e o divórcio, enquanto se concentra em problemas sociais como
a mudança climática e a desigualdade econômica.
PAPA REJEITA
O papa Francisco rejeitou, em uma entrevista publicada nesta
sexta-feira (18), a visão "em preto e branco" da ala mais
conservadora da Igreja católica, muito crítica em relação à mão estendida pelo
Vaticano aos divorciados que voltam a se casar.
Sem colocar em dúvida o dogma do matrimônio católico
indissolúvel, o texto abre caminho para que os divorciados possam comungar,
apesar de apenas em alguns casos e em função do que decidir cada bispo.
Mas, em sua entrevista ao jornal católico italiano
"Avvenire", o papa Francisco afirmou com convicção:
- Alguns continuam sem entender, é branco ou preto, mesmo que
esteja no fluxo da vida o discernimento -, disse Francisco, para quem “os
ataques à Amoris Laetitia nascem de certo legalismo, que pode ser ideológico”.
Quanto a carta recebido dos “rebeldes”, o pontífice assegurou
que ela não tira o seu sono.
Redação: Gomes Silva
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