PARANÁ

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Papa Francisco se enrola em "Amoris Laeititia" e acaba dividindo a IC

O Papa Francisco mexeu com a ala conservadora da Igreja Católica após elaborar um documento, chamado “Amoris Laetitia”, no qual faz declarações bombásticas na visão dos “rebeldes”, como são considerados aqueles que questionam decisões papais. E está dividindo as opiniões dentro da IC.

As declarações do papa que mais chamaram a atenção do conservadores, são: “O caminho da Igreja é o de não condenar eternamente ninguém; derramar a misericórdia de Deus sobre todas as pessoas que a pedem com coração sincero (...). Porque a caridade verdadeira é sempre imerecida, incondicional e gratuita. Por isso, temos de evitar juízos que não tenham em conta a complexidade das diversas situações e é necessário estar atentos ao modo em que as pessoas vivem e sofrem por causa da sua condição”, escreveu o papa no Capítulo VIII.

E o papa vai mais além ao lembrar o sínodo (trata-se de uma série de encontros de representantes das diversas classes de fiéis para tratarem de assuntos propostos por quem convocou o Sínodo e proporem encaminhamentos para as questões discutidas), ao afirmar que o documento “trata de integrar a todos; deve-se ajudar cada um a encontrar a sua própria maneira de participar na comunidade eclesial, para que se sinta objeto duma misericórdia imerecida, incondicional e gratuita. Ninguém pode ser condenado para sempre, porque esta não é a lógica do Evangelho! Não me refiro só aos divorciados que vivem numa nova união, mas a todos seja qual for a situação em que se encontrem. Obviamente, se alguém ostenta um pecado objetivo como se fizesse parte do ideal cristão ou quer impor algo diferente do que a Igreja ensina, não pode pretender dar catequese ou pregar e, neste sentido, há algo que o separa da comunidade”.

Para os teólogos mais conservadores, os ensinamentos modernos do papa sobre as famílias e divorciados católicos são, em parte, "sacrilégio" e "podem justificadamente ser considerados hereges", como sinalizou Steve Skojec, cofundador e diretor da publicação católica One Peter Five.

Eles veem o tratado como um movimento do pontífice para afrouxar as normas morais que regem os fundamentos da Igreja.

VERDADE
Essas declarações de Francisco não foram bem recebidas pela maioria dos católicos, que tanto o admiravam. Por isso, como se sabe, sua escolha para substituir Bento 16 (no dia 13 de março de 2013) foi considerada uma “zebra” já que seu nome não figurava na lista de prováveis substitutos. Ainda mais por ser latino-americano.

O Papa Francisco caiu na graça dos católicos do mundo inteiro (e até de pessoas de fora da IC), pelo seu jeito democrático, “brincalhão” e pela opção de andar, às vezes, sem seguranças, e optar por tomar café e bater papo com outras pessoas nas ruas.

Só que a realidade da IC era outra. Por isso, Francisco assumiu com a função de manter a unidade de uma igreja que, nas palavras de seu próprio antecessor, o agora Papa Emérito Bento XVI, estava dividida e imersa em crises. E pelo visto, crises é o que não falta na Igreja Católica.

Este ano, o papa argentino, querendo fazer média com a ala liberal da igreja, escreveu a “Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia”, direcionada aos bispos, presbíteros, diáconos, às pessoas consagradas, esposos cristãos e a todos os fiéis leigos, tratando do amor na família. Esse documento, no entanto, é considerado pela ala conservadora como sendo uma tentativa de abrir novas portas para católicos divorciados e tornar a igreja mais tolerante com questões relacionadas à família.

DESAFIO AO PAPA
Ao analisar o documento escrito pelo papa Francisco, quatro cardeais conservadores partiram para o inesperado e inaceitável pelo Vatiano: Fizeram um raro desafio público ao pontífice ao acusá-lo de semear confusão a respeito de temas morais importantes. Eles (Os cardeais) escreveram uma carta ao papa em setembro com os questionamentos, mas afirmam que foram a público porque a carta não foi respondida.

Está em questão alguns dos ensinamentos da encíclica de 260 páginas “Amoris Laetitia” (A Alegria do Amor), documento que é um pilar da tentativa de Francisco de tornar a igreja de 1,2 bilhão de católicos mais inclusiva e menos condenatória. No documento (veja no site do Vaticano), emitido em abril, ele pede que a igreja seja menos rígida e mais compassiva com quaisquer membros “imperfeitos”, como aqueles que se divorciaram e voltaram a se casar, dizendo que “ninguém pode ser condenado para sempre”.

De acordo com matéria da Agência Reuters, publicada no site da Revista Veja, a maioria dos críticos a Francisco se concentrou no que a carta papal disse sobre a reintegração plena à igreja de membros que se divorciam e voltam a se casar em cerimônias civis. “Nós, abaixo assinados, e também muitos bispos e sacerdotes, temos recebido inúmeros pedidos de fiéis sobre a interpretação correta a dar o Capítulo VIII da Exortação”, escreveram os cardeais Joachim Meisner, Walter Brandmüller (ambos alemães), Raymond Burke (americano), Carlo Caffarra (italiano) e na sua carta de 19 de setembro.

Pela lei da igreja, eles não podem receber a comunhão a menos que se abstenham de sexo com os novos parceiros, pois seu primeiro casamento ainda é válido aos olhos da igreja – dessa forma, considera-se que eles estão vivendo em um estado pecaminoso de adultério.

Na encíclica, o papa pareceu se aliar aos progressistas que propuseram um “fórum interno” no qual um padre ou bispo decide em cada caso, conjuntamente com o indivíduo, se ele ou ela pode ser reintegrado plenamente e receber a comunhão.

O pontífice já se desentendeu com conservadores que temem que ele esteja enfraquecendo os ditames católicos referentes a temas morais, como a homossexualidade e o divórcio, enquanto se concentra em problemas sociais como a mudança climática e a desigualdade econômica.

PAPA REJEITA
O papa Francisco rejeitou, em uma entrevista publicada nesta sexta-feira (18), a visão "em preto e branco" da ala mais conservadora da Igreja católica, muito crítica em relação à mão estendida pelo Vaticano aos divorciados que voltam a se casar.

Sem colocar em dúvida o dogma do matrimônio católico indissolúvel, o texto abre caminho para que os divorciados possam comungar, apesar de apenas em alguns casos e em função do que decidir cada bispo.

Mas, em sua entrevista ao jornal católico italiano "Avvenire", o papa Francisco afirmou com convicção:

- Alguns continuam sem entender, é branco ou preto, mesmo que esteja no fluxo da vida o discernimento -, disse Francisco, para quem “os ataques à Amoris Laetitia nascem de certo legalismo, que pode ser ideológico”.
Quanto a carta recebido dos “rebeldes”, o pontífice assegurou que ela não tira o seu sono.


Redação: Gomes Silva
Foto: google