PARANÁ

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O esporte, suas lágrimas e o "aproveitamento"

Pastor Gomes Silva

A Olimpíada da China avança para o seu final. Até lá muitas lágrimas – de alegrias ou de tristeza -, ainda vão descer rosto abaixo. Alguns atletas serão “imortalizados”, ovacionados, carregados nas costas dos fãs e admiradores e até ganharão comendas como recompensa além das cobiçadas medalhas; outros, infelizmente, voltarão para casa tristes, humilhados, sentindo-se derrotados e fracassados ante os olhares repugnantes de muitos que, desses suadores, aguardavam ou aguardam soltar o grito de alegria, afogando, assim, suas decepções do dia a dia no pódium dos vencedores.

O esporte continua movimentando bilhões e mais bilhões de reais pelos campos, ginásios, arenas, parques aquáticos etc nos quatro cantos da terra, e homens de ternos e gravata constroem a sua história através de edificação de suntuosas cidades, tudo isto à custa de sofridos atletas que, às vezes, não têm sequer dinheiro para se deslocarem para os locais de treinamentos ou de competições.

É bem verdade que uma boa parte dos medalhistas tem famílias abastadas, condições e tempo para se prepararem visando às competições. Contudo, a maioria dos atletas vem de famílias carentes, sem uma boa alimentação e condições mínimas necessárias para atingir seus objetivos. Apenas com a cara, a coragem e a esperança de um futuro brilhante ajudados apenas pelos esforços de pais que sofrem para bancar as despesas. Tanto é verdade que sempre que um atleta consegue um feito, agradece aos pais pelo que lhe proporcionaram.

Mas nem sempre os perdedores são perdedores. Lutar sempre, desistir jamais tem sido o lema de muitos atletas, que sofrem por causa de uma razão. E quando não vencem buscam força na derrota para encarar os próximos desafios sem olhar para as críticas nem se alto derrotando, mesmo se derretendo em lágrimas por não alegrar seus incentivadores e colaboradores, na maioria das vezes, seus próprios pais.

O que não é admissível é ver um grande número de atletas competindo, defendendo as cores do país, e longe deles, em Brasília, um grupo de engravatados querendo aparecer. E das tribunas muito tentam encontrar culpados pelo fato de o Brasil para não ter alcançado o êxito esperado em algumas modalidades, a exemplo do que aconteceu com a Seleção Brasileira de Futebol ao ser derrotada pela rival Argentina. E aí ficam os presidentes da Câmara e do Senado Federal criticando os atletas e pedindo a cabeça do técnico Dunga.

Queria eu estar de frente com esses homens que se dizem representante do povo para perguntar-lhes: qual a contribuição deles para a formação de um simples atleta. E mesmo que tivesse não teria nenhuma razão para exigir, pois o ser humano é limitado e não é invencível. E poderiam até pensar que, num país onde o futebol é desorganizado e o incentivo à prática do esporte olímpico, principalmente, é dado pensando no retorno eleitoreiro, muitos atletas e treinadores, a exemplo de Dunga, estão dando duro enquanto eles estão nos gabinetes com toda estrutura necessária para cumprir seus mandados: indo do ar condicionado ao seu bom salário, “passando” pelo cafezinho, boa vida, carros e aviões à disposição.

Torcer, vibrar, comemorar as grandes conquistas, mesmo sendo de outros, todos têm direito. Inclusive os políticos. Só não podem é querer aparecer à custa de pobres, porém bravos lutadores pela vida.

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