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segunda-feira, 12 de março de 2012

Onde foi parar o fio de bigode?

Walter Brunelli
Lamentavelmente, nunca se viu tanto descaso com a palavra empenhada entre o povo de Deus quanto ultimamente. Para muitos, nem o fio, nem o bigode, nem mesmo o contrato registrado em cartório tem valor algum.

O fio de bigode, até há bem poucos anos, serviu como selo do bem mais precioso do caráter humano: a palavra empenhada. Até mesmo as mulheres, que não têm bigode, valiam- -se do adágio para expressar a honra de uma palavra empenhada. “Fio de bigode” era uma sentença moral equivalente à expressão “palavra de rei”, porque essa - continua o ditado - “não volta atrás”.

Bons tempos aqueles em que não era nem mesmo preciso assinar-se um acordo, porque a palavra empenhada não corria o risco de ser negligenciada, exceto por um incidente - e a isso todos os seres humanos estão sujeitos. Porém, para quem é decente, mesmo hoje uma ação inopinada jamais pode passar em branco, sem que haja uma justificativa à altura e com ares de sincera consternação!

De onde advém o crescente hábito de se faltar com a palavra nos dias de hoje? Será que da cultura retórica dos nossos políticos? Será que da prática cada vez mais acentuada do “jeitinho brasileiro”? Será que esse defeito moral vem se desenvolvendo como mecanismo de defesa por parte de uma população cada vez menos capaz de dar conta dos seus compromissos? Ou será que resulta da crença de que honestidade é algo antiquado, que não se pode encaixar à realidade do pragmatismo da vida atual?

Abraham Lincoln, presidente dos Estados Unidos, fazia um devocional todos os dias às 7 da manhã com todos os seus secretários. Certo dia, um deles chegou com um minuto de atraso, ao que Lincoln lhe perguntou: “Por que o senhor está chegando agora?” O secretário tentou justificar-se: “Meu relógio atrasou, excelência”. Lincoln retrucou: “Ou o senhor troca o relógio ou eu troco o secretário”. Não se deve deixar os outros esperarem. Uma pessoa de bem jamais deve se comprometer com algo que não esteja à sua altura!

O descuido com a palavra pode ser causado por esquecimento ou por mal-entendidos; já quando a palavra tratada não é bem assimilada por uma das partes, há grande risco de o acordo cair por terra. Nesse último caso, seria bom que se registrasse tudo o que se diz, fazendo valer o velho ditado latino: verba volant scriptus manetis perenis - “As palavras voam, os escritos permanecem”.

Mas quanto desconforto isso não traria? Imagine-se a pessoa ter de trocar a fala pela escrita! Ou, então, fazer uso da tecnologia, gravando tudo o que fala! Ser homem de palavra é ético, é bíblico, é cristão, é honesto, é digno de quem leva o testemunho cristão a sério. O oposto disso é aviltante, e todo aquele que faz desse ato vil sua prática de vida deve ser notado e evitado. Lamentavelmente, nunca se viu tanto descaso com a palavra empenhada entre o povo de Deus quanto ultimamente.

Para muitos, nem o fio, nem o bigode, nem mesmo o contrato registrado em cartório tem valor algum. Certamente, porque não se deram conta de que os seus atos são regidos pelo pai da mentira e não pelo Senhor a quem dizem servir; afinal, são dele as palavras registradas em Mateus 5:37 : “Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna”.

Por Walter Brunelli:
Pastor da Assembleia de Deus Bereana, com sede na Vila Mariana, SP, e diretor do CPESP

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Fonte: www.cpesp.org.br