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sábado, 5 de fevereiro de 2011

Perdemos um amigo; um professor sem sala de aula

O Campeonato Paraibano 2011 tem inicio neste domingo (6). As equipes se organizaram, contrataram e criaram grande expectativa para a largada, mas na prática isto não acontecerá além da bola rolando no gramado dos palcos do futebol paraibano. Palcos estes, que, infelizmente, vão estar vazios da emoção que há anos se ouvia de uma cabine de Imprensa, às vezes improvisada, dependendo do contexto do espetáculo, e que movia o torcedor em torno da jogada relatada com exímia perfeição e eloquencia pelo Mestre da Narração Radiofônica Esportiva do Nordeste. Em cada praça esportiva, o luto vai estar presente e não faltará lágrimas no rosto de muitos cronistas esportivos ao ouvir o trilar do apito para um minuto de silêncio.

Ele fez história e escola, sendo ele mesmo um professor sem quadro-negro muito menos com um giz à mão. O “mestre” nos ensinou apenas com a voz, um microfone e um exemplo a ser seguido como pai, marido responsável e um profissional sem ambição de espaços além daqueles lhes concedidos pelo Criador.

Nós, admiradores da competência, perdemos um grande amigo: JOSELITO PEREIRA DE LUCENA, um ícone da narração esportiva, que prestou um grande serviço ao futebol do nosso Estado.

Mas, é como disse o prefeito de Campina Grande, Veneziano Vital do Rêgo: “A sua voz, a sua vibração e seus gritos de gol ecoarão eternamente e emocionarão aqueles que amam ou acompanham o mais popular dos esportes, o futebol”.

Tristeza de Zelito
Joselito Lucena viveu seus últimos anos lutando contra um câncer. Mas, acredito que uma de suas maiores tristezas foi ter passado alguns anos sem falar com um grande amigo. Também locutor esportivo. E sei que dei a minha contribuição nesse aspecto – mesmo que um deles não o soubessem -, para que voltassem às pazes.
Lembro-me como se fosse hoje: Sempre que eu tocava nesse assunto, ele se calava e baixava a cabeça, numa demonstração de profunda tristeza pelo ocorrido.

Um presentaço
Certa vez, quando me preparava para testar conhecimento em um concurso vestibular, Joselito me disse:
- Eu tenho algo que vai lhe ajudar. Era um Almanaque Mundial (tipo Almanaque Abril), editado em 1976, uma enciclopédia de dados úteis e conhecimentos práticos sobre história, política, geografia e economia de 150 países. Foi uma ajuda e tanto. E deu certo.

Incrível
Joselito gostava de tomar uma(as). Certa vez, quando transmitia um Clássico dos Maiorais, ele narrou o jogo como se nada tivesse tomado anteriormente. Chico Alemão, seu velho companheiro de guerra, encerrou seu comentário entre o primeiro e o segundo tempo. Da central de Áudio da Rádio Caturité, o operador colocou a vinheta: Joselito... Luce...na. Ele estava passado numa cadeira e eu, ao lado, pensando: Eita, e agora?
De repente Chico fala:
- Zelito? Zelito?... Quando a vinheta terminou, ele entrou no ar como se tudo estivesse às mil maravilhas, falando:
- Você ouviu os comentários abalizados de Chico Alemão... aqui no som da Caturité. Vai começar a segunda etapa de Treze e Campinense; Campinense e Treze...
Eu estava na cabine e fiquei parado e cada vez mais admirado ao ver e ouvir tudo aquilo. Era uma prova inconteste da competência do Bom Baiano.
Sem comparação
Quem será o substituto do querido Joselito Lucena? Ninguém, apesar de termos excelentes narradores esportivos em Campina Grande e na Paraíba. Um deles é o nosso “Camisa 10”, Paulo Roberto Florêncio. Só que ele está mais voltado para o “Ponto a Ponto” da TV Itararé e para a companhia de Juarez Amaral e equipe no Jornal de Verdade, acordando o povo paraibano pela Rádio Cidade Esperança.
Ah, mas existem outros que também se destacam na explosão do gol: Romildo Nascimento, Dimas Andrade, o Cabeção Juacir Oliveira e Rostand Silva Lucena, filho de Joselito, entre outros.

P
erdoem-me os amigos vivos, mas não dá para comparar.

Gomes Silva - jornalista